17 fevereiro 2004

Cirurgia (2)

Acordei numa sala cheia de macas com gente gemendo, às 3h da manhã. Tava tudo amortecido nas pernas. Não mexia nada. Tava na chamada Sala de Recuperação Pós-Cirurgia, ou algo parecido. Me deram um conosquinho para eu me alimentar, já que estava de jejum desde o meio-dia de quarta. Comi e logo dormi de novo, de cansado.

Novo despertar, agora com uma enfermeira ao meu lado:

"Bom dia! Tudo bem? Precisas urinar?"

Naquela hora, não sabia que essa pergunta era tão importante. Comecei a desconfiar depois que o médico plantonista chegou:

"Estás te sentindo bem? Já urinaste hoje de manhã?"

As outras duas enfermeiras me perguntaram o mesmo, é claro. O médico voltou:

"Não urinaste? Bom, tu vais assim mesmo para o quarto."

A manhã de quinta foi uma tortura mental para eu urinar. Cheguei no quarto e me deram um 'papagaio', um penico-garrafa de aço com uma gargalo grande:

"Se quiseres fazer xixi, usa isso. Queres descansar?"

Sim, quero descansar. Dormi mais par de horas.

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Acordei umas 8 horas, com a enfermeira do meu lado com uma bandeja com o café: "Bom dia! Já urinaste?". Ai, meu DEUS! Minha vida nesse hospital é mijar! Não que eu não tivesse tentado, mas a água não queria sair.

Seu Breno e Dona Lúcia vieram no meio da manhã, para me fazer companhia e saber como eu tava. Conversamos animadamente, mas eu estava preocupado com o tal do papagaio.

O golpe final foi perto do meio-dia:

"Marco, liguei pro teu médico e ele disse que é para te sondar..."

"Não é muito legal essa estória de sonda, né?"

"Não, não é."

"Não tenho um prazo para tentar novamente?"

"Ok, vamos esperar até meio-dia."

Já eram 11:40h, é claro.

Não precisa ser muito esperto para saber que esse negócio de sonda não é muito agradável. Enfiar um treco não sei de que tamanho, não sei aonde, para puxar o mijo de dentro de tua bexiga, não sei como, não deve ser algo light.

Bateu o desespero: vou mijar agora, nem que seja a última coisa na minha vida! Mandei todo mundo sair do quarto, para a concentração absoluta. Pedi para fechar as janelas. Desliguei a TV. Posicionei o papagaio. Me coloquei em posição mijagorapelamordedeus.

Fiz tanta força que quase me borrei junto. Resultado: perto de um litro, quase transbordando a porqueira do pote.

Chamei a enfermeira.

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